Nossa entrevista de estreia é com o Dr. Rodrigo Monteiro Fagundes médico veterinário acupunturista. Vamos conversar sobre como funciona o tratamento e se realmente funciona!
T&L: Qual a diferença entre a acupuntura em
humanos e em animais?
RF: Existem algumas diferenças. Inicialmente, com relação ao
diagnóstico, pois, como nossos pacientes não respondem nossas perguntas,
dependemos da observação dos donos para identificar os sinais que vão nos
ajudar na formulação do diagnóstico e escolha correta do tratamento. Além
disso, a localização de alguns pontos de acupuntura pode ser bem diferente do
que a localização em seres humanos. Com relação às técnicas utilizadas,
normalmente são bem semelhantes às utilizadas em seres humanos.
T&L: Pra que serve a acupuntura? Que tipo de
doença pode ser tratada? Ela também ajuda a mudar ou melhorar comportamentos?
Qualquer animal pode fazer?
RF: A acupuntura tem como princípio básico não tratar uma doença, mas sim,
tratar um doente. Ou seja, nosso objetivo é reequilibrar o organismo e fazer
com que ele atinja a cura do problema. Teoricamente, todas as doenças podem ser
tratadas com acupuntura, desde problemas simples como dores até síndromes mais
complexas como distúrbios de medicina interna e até câncer. A acupuntura pode
auxiliar sim em algumas alterações comportamentais, pois, na medicina chinesa,
cada emoção está relacionada a um determinado órgão e, ao tratá-lo, sua emoção
também será atingida. Porém, devemos lembrar que alterações comportamentais
envolvem uma série de outros fatores como educação do animal, socialização do
filhote e etc.
Qualquer animal pode ser tratado com medicina chinesa, seja com
acupuntura, fitoterapia, Tui-Ná ou a associação dessas técnicas. Existem
relatos de caso em peixes, aves, aranhas, grandes mamíferos como elefantes e
rinocerontes.
T&L: Tratamento alopático convencional pode ser
acompanhado de acupuntura?
RF: Essa é a nova tendência que tem se buscado. A medicina do futuro
provavelmente será uma combinação da medicina alopática com a medicina oriental.
Isso já é uma realidade em alguns países. Nos estados Unidos, por exemplo, mais
de 60% dos animais recebem alguma forma de tratamento holístico em conjunto com
a medicina alopática convencional.
T&L: Como você sabe onde colocar a agulha? O
animal sente dor?
RF: Os pontos têm a sua localização descrita em mapas específicos para
as espécies, mas a localização dos pontos que devem ser estimulados (seja com
agulha ou qualquer outro método, como o calor, o laser, etc) é feita através de
palpação do corpo.
Normalmente a inserção das agulhas é praticamente indolor, mas alguns
pontos podem se localizar em locais bem sensíveis como nas pontas dos dedos ou
próximos aos olhos. Além disso, dependendo da patologia que o animal apresente,
alguns pontos podem se tornar bem sensíveis.
T&L: Como deixar os animais quietinhos durante
a sessão? E os que não ficam, tem como fazer o tratamento neles?
RF: Não há necessidade de nenhuma técnica especial para deixa-los
quietos durante a sessão. A acupuntura proporciona a liberação de uma série de
substâncias produzidas pelo organismo e, muitas dessas substâncias conferem uma
sensação de prazer e relaxamento ao animal. Nos animais agitados, optamos por
técnicas mais rápidas e menos invasivas como a acupuntura laser, a acupuntura
sem inserção, a moxabustão ou a massagem (Tui-Ná).
T&L: Quanto tempo dura o tratamento? Tem que
fazer semanalmente ou apenas quando tem alguma crise?
RF: A duração do tratamento é muito variável. Depende de fatores como:
tempo de início do problema, grau de comprometimento do organismo, gravidade da
patologia, colaboração dos proprietários em realizar os procedimentos
domiciliares, etc.
Normalmente problemas que iniciaram há pouco tempo, tendem a apresentar
uma resolução mais rápida e problemas que já estão presentes há muito tempo
demoram mais a serem resolvidos.
T&L: Em quais casos e doenças a acupuntura não
é recomendada?
RF: A acupuntura é recomendada em qualquer tipo de patologia. Mesmo nas
doenças ditas incuráveis, a acupuntura pode ser utilizada para trazer conforto,
alívio de dores e qualidade de vida ao animal.
T&L: Você pode dar uma dica de situações que
seria interessante nossos leitores procurarem um veterinário acupunturista?
RF: Animais que apresentam doenças recorrentes, ou seja, que aparecem
com frequência, ou aqueles animais que sempre tem alguma queixa são fortíssimos
candidatos a tratamentos com medicina oriental. Esses pequenos problemas que
aparecem de vez em quando nos animais e que, aparentemente, são sinais sem
importância, são, na verdade, dicas que o corpo está dando de que existe um
desequilíbrio acontecendo.
Como na medicina convencional esses sinais não são interpretados e sim
tratados como uma doença simples. Esses sinais são combatidos, mas não se tem a
preocupação de avaliar o porquê do desenvolvimento dessas pequenas doenças nos
animais.
Além disso, os proprietários que preferem realizar um trabalho
preventivo em seus animais, minimizando o risco de aparecimento de doenças em
estágio avançado, devem utilizar essas técnicas para identificar quais os
órgãos de choque do seu animal, realizando um tratamento precoce no mesmo,
antes que doenças mais sérias se desenvolvam.
T&L: O valor cobrado pelas sessões é parecido
com o valor de sessões para humanos?
RF: Infelizmente, eu não sei dar essa informação. Não tenho acesso a
valores cobrados por acupunturistas humanos, mas acredito que esses valores
sejam bastante variáveis de acordo com a experiência e formação de cada
profissional.
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